segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Menos é Mais.

 As lojas estão abarrotadas de artigos baratos da China e fazem nosso mecanismo biológico acumular até enlouquecer. Isso também é parte de nossa cultura: como a oferta de produtos é ilimitada, os anunciantes nos dizem que precisamos comprar mais para manter a máquina do consumo a todo vapor. Ter uma TV gigante e novinha já não é desejo, mas uma necessidade.
 Só que cada coisa nova que agregamos às nossas vidas tem custos escondidos. Casas maiores consomem mais energia, mais impostos, mais manutenção. Um carro grande e luxuoso gasta mais combustível e tem a mecânica mais cara. E à medida que compramos as coisas, precisamos de mais espaço para guardá-las. Nos últimos 60 anos, por exemplo, o tamanho médio de um apartamento novo nos EUA aumentou de 91 para 230 metros quadrados. Ocupamos três vezes mais espaço, e continuamos acumulando objetos. De repente, nossas vidas se tornam caras e complicadas. Acabamos trabalhando mais simplesmente para manter o que adquirimos.
 Hoje, moro num apartamento de 40 m² em Manhattan com todo o conforto que preciso. Até quarto de hóspedes. Ele foi projetado para uma quantidade reduzida de coisas - as prediletas. Tudo nele é eficiente: minha cama fica embutida na parede e se abre quando vou dormir. Tenho duas TVs: uma na verdade é um telão que fica enrolado numa parede móvel, a outra é também o monitor da minha estação de trabalho. A mesa é mínima e pode ser ampliada para um jantar de até dez pessoas. Não possuo CDs ou DVDs (salvo tudo na nuvem). Tenho só seis camisetas na gaveta e dez tigelas na cozinha. Uma tigela cabe dentro da outra para ocupar pouco espaço, como tudo na casa. Você também pode editar sua vida. Por que guardar aquela calça que não usa há anos? E por que ter um fogão de seis bocas quando raramente usa três? Com menos coisas para guardar e manter, você ganha mais liberdade e um pouco mais de tempo. Só vamos cultivar uma relação equilibrada com o consumo quando começarmos a valorizar as coisas que de fato nos fazem felizes.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

POEMA EM LINHA RETA

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

FERNANDO PESSOA(ÁLVARO DE CAMPOS)

sábado, 25 de maio de 2013

Pensamentos de Tyler Durden


 

"O desastre faz parte da
minha evolução natural
rumo à tragédia e à
dissolução" Estou rompendo meus vínculos
com a força física e os bens materiais,
porque só destruindo a mim mesmo
vou descobrir a força superior do meu
espírito"
Tyler Durden

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

“O quanto você conhece de si mesmo se você nunca entrou numa luta?”


   
Clube da Luta (Fight Club - 1999) é um filme que trata sobre a sociedade atual de uma maneira nada convencional. Ao contrário do que muitos pensam o filme não se trata de violência, nem a banaliza. Clube da Luta é um filme sobre ideologia, com uma crítica bem ácida sobre a sociedade moderna.
          O filme de David Fincher mostra que a moderna humanidade se vê em meio a uma enorme ausência e vazio de valores, mas, ao mesmo tempo, em meio a uma desconcertante abundância de possibilidades. É o que filósofo Friedrich Nietzsche chama de “o advento do niilismo” que “o indivíduo, em tempos como esse, ousa individualizar-se”.  As possibilidades desse mundo são ao mesmo tempo gloriosas e deploráveis. “Nossos instintos podem agora voltar atrás em todas as direções; nós próprios somos uma espécie de caos”. 
          A teoria do conflito na cultura moderna de Max Webber relaciona-se com a sociedade odiada por Tyler no filme porque de acordo com Webber, as grandes massas não têm sensibilidade, espiritualidade ou dignidade e esses “homens-massa” ou “homens-ocos” não tem o direito de governar nada nem ninguém, nem a si mesmos. Eles precisariam de uma conscientização, também proposta do Projeto Caos no filme, para exercer alguma função na sociedade. As massas não têm ego, nem “id”, suas almas são carentes de tensão interior e dinamismo; suas idéias, suas necessidades até seus dramas “não são deles mesmos”; suas vidas interiores são “inteiramente administradas”, programadas para produzir exatamente aqueles desejos que o sistema social pode fazer, nada além disso. “O povo se auto-realiza no seu conforto; encontra sua alma em seus automóveis, seus conjuntos estereofônicos, suas casas, suas cozinhas equipadas”. Essa é a crítica que o diretor faz, muito bem representada no filme.
"Fomos criados pela televisão para acreditar que um dia, seríamos ricos, estrelas de cinema e do rock. Mas não seremos. E estamos aos poucos aprendendo isso". Neste argumento do personagem Tyler, vemos claramente o inconformismo, a angústia e o medo do homem ao "cair na real", e perceber que sua vida é muito mais do que as regras que ele e a sociedade estabeleceram para viver.
A modernidade parece ser constituída por suas máquinas, das quais os homens e mulheres modernos não passam de reproduções mecânicas. A anarquia do Clube da Luta é uma espécie de vanguarda e propunha estar fora dessa sociedade consumista para analisá-la e depois destruí-la.
"A propaganda nos faz correr atrás de coisas, trabalhos que odiamos, para acabar comprando o que não precisamos". São essas e outras características que se deve enxergar em Clube da Luta: um filme que justifica todas as acusações da influência negativa que os filmes de Hollywood têm na sociedade - e que a própria sociedade têm sobre a sociedade. E não existe nada mais inusitado e engraçado do que colocar Brad Pitt como o personagem anti-hollywood e Edward Norton como um cara alienado e com cara de bobo.
Após assistirmos ao filme de Fincher, parece que levamos um soco na boca do estômago, é um filme no qual não se consegue ver comendo pipoca, é algo que incomoda e se incomoda, deve ser pensado, refletido. O homem comete atrocidades todos os dias, mas vê-las na medida certa numa tela de cinema não é fácil. O diretor mostra tudo isso numa velocidade alucinante e profunda, como em um clip imaginário, sem ser raso ou maniqueísta. O soco, portanto, vale o sofrimento.

     
Fabiana Ribeiro Pires (Disciplina, Fundamentos do Cinema)
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terça-feira, 28 de agosto de 2012

Capitalismo: A sociedade da competição

E se o mundo e sua infeliz humanidade são divididos entre vencidos e vencedores, então que vençamos. Esse é o pensamento dominante. E é assim que entramos em estado permanente de campeonato. Minha cidade tem um edifício de dez andares, e a sua não tem. Nós temos três shoppings, e vocês só têm um. Então não se para mais de concorrer. Existem campeonatos de edifícios altos e campeonatos de número de shoppings. Tudo é competição.
Na sociedade da competição, ninguém mais fala em ser bom; é necessário ser o melhor. E isso, mesmo que o melhor seja de baixa, baixíssima qualidade. Estar por cima, ser o primeiro, eis o que interessa.
Nesse tipo de sociedade, a criança ainda tem algum valor, que é o investimento de risco. Ela é vista como o produtor e consumidor do futuro. Para isso é preciso prepará-la, ou seja, para que seja eficiente produtor e ótimo consumidor. Os velhos, bem, que fazer com esses trastes que não produzem mais nada e só consomem remédio?
É com apreensão que se volta nosso olhar para o futuro. Se a sociedade humana sobreviveu graças ao espírito de solidariedade, extinto esse, pode-se ter muita esperança quanto ao futuro?  Se vivemos no meio de adversários, que precisamos eliminar para vencer, vamos conquistar um mundo deserto.

 Menalton Braff

sexta-feira, 24 de agosto de 2012