Clube da Luta (Fight Club -
1999) é um filme que trata sobre a sociedade atual de uma maneira nada
convencional. Ao contrário do que muitos pensam o filme não se trata de violência,
nem a banaliza. Clube da Luta é um filme sobre ideologia, com uma crítica bem
ácida sobre a sociedade moderna.
O filme de David Fincher mostra que a moderna humanidade se vê em meio a uma
enorme ausência e vazio de valores, mas, ao mesmo tempo, em meio a uma
desconcertante abundância de possibilidades. É o que filósofo Friedrich
Nietzsche chama de “o advento do niilismo” que “o indivíduo, em tempos como
esse, ousa individualizar-se”. As possibilidades desse mundo são ao mesmo
tempo gloriosas e deploráveis. “Nossos instintos podem agora voltar atrás em
todas as direções; nós próprios somos uma espécie de caos”.
A teoria do conflito na cultura moderna de Max Webber relaciona-se com a
sociedade odiada por Tyler no filme porque de acordo com Webber, as grandes
massas não têm sensibilidade, espiritualidade ou dignidade e esses
“homens-massa” ou “homens-ocos” não tem o direito de governar nada nem ninguém,
nem a si mesmos. Eles precisariam de uma conscientização, também proposta do
Projeto Caos no filme, para exercer alguma função na sociedade. As massas não
têm ego, nem “id”, suas almas são carentes de tensão interior e dinamismo; suas
idéias, suas necessidades até seus dramas “não são deles mesmos”; suas vidas
interiores são “inteiramente administradas”, programadas para produzir
exatamente aqueles desejos que o sistema social pode fazer, nada além disso. “O
povo se auto-realiza no seu conforto; encontra sua alma em seus automóveis,
seus conjuntos estereofônicos, suas casas, suas cozinhas equipadas”. Essa é a
crítica que o diretor faz, muito bem representada no filme.
"Fomos
criados pela televisão para acreditar que um dia, seríamos ricos, estrelas de
cinema e do rock. Mas não seremos. E estamos aos poucos aprendendo isso".
Neste argumento do personagem Tyler, vemos claramente o inconformismo, a
angústia e o medo do homem ao "cair na real", e perceber que sua vida
é muito mais do que as regras que ele e a sociedade estabeleceram para viver.
A modernidade
parece ser constituída por suas máquinas, das quais os homens e mulheres
modernos não passam de reproduções mecânicas. A anarquia do Clube da Luta é uma
espécie de vanguarda e propunha estar fora dessa sociedade consumista para
analisá-la e depois destruí-la.
"A
propaganda nos faz correr atrás de coisas, trabalhos que odiamos, para acabar
comprando o que não precisamos". São essas e outras características que se
deve enxergar em Clube da Luta: um filme que justifica todas as acusações da
influência negativa que os filmes de Hollywood têm na sociedade - e que a
própria sociedade têm sobre a sociedade. E não existe nada mais inusitado e
engraçado do que colocar Brad Pitt como o personagem anti-hollywood e Edward
Norton como um cara alienado e com cara de bobo.
Após
assistirmos ao filme de Fincher, parece que levamos um soco na boca do
estômago, é um filme no qual não se consegue ver comendo pipoca, é algo que
incomoda e se incomoda, deve ser pensado, refletido. O homem comete atrocidades
todos os dias, mas vê-las na medida certa numa tela de cinema não é fácil. O
diretor mostra tudo isso numa velocidade alucinante e profunda, como em um clip
imaginário, sem ser raso ou maniqueísta. O soco, portanto, vale o
sofrimento.