E se o mundo e sua infeliz humanidade são divididos entre vencidos e
vencedores, então que vençamos. Esse é o pensamento dominante. E é assim
que entramos em estado permanente de campeonato. Minha cidade tem um
edifício de dez andares, e a sua não tem. Nós temos três shoppings, e vocês só têm um. Então não se para mais de concorrer. Existem campeonatos de edifícios altos e campeonatos de número de shoppings. Tudo é competição.
Na sociedade da competição, ninguém mais fala em ser bom; é
necessário ser o melhor. E isso, mesmo que o melhor seja de baixa,
baixíssima qualidade. Estar por cima, ser o primeiro, eis o que
interessa.
Nesse tipo de sociedade, a criança ainda tem algum valor, que é o
investimento de risco. Ela é vista como o produtor e consumidor do
futuro. Para isso é preciso prepará-la, ou seja, para que seja eficiente
produtor e ótimo consumidor. Os velhos, bem, que fazer com esses
trastes que não produzem mais nada e só consomem remédio?
É com apreensão que se volta nosso olhar para o futuro. Se a
sociedade humana sobreviveu graças ao espírito de solidariedade, extinto
esse, pode-se ter muita esperança quanto ao futuro? Se vivemos no meio
de adversários, que precisamos eliminar para vencer, vamos conquistar
um mundo deserto.
Menalton Braff